O filme de terror com ventríloquo de James Wan está pronto para ser redescoberto – Gizmodo

James Wan’s Ventriloquist Horror Flick Pronto para ser Redescoberto

Não é o festival de sustos que se pretendia, mas Dead Silence se apresenta como um olhar divertido sobre os primórdios dos sucessos futuros do diretor.

Em 2007, James Wan era um cineasta promissor do terror, tendo alcançado grande sucesso com Saw (2004), que já contava com duas sequências e uma terceira a caminho. Contudo, antes de Insidious e The Conjuring, ele realizou alguns projetos pontuais, como o thriller de vingança Death Sentence, estrelado por Kevin Bacon, e o inquietante conto de terror de ventriloquismo, Dead Silence.

Recentemente adicionado ao serviço de streaming Shudder, Dead Silence pode não ter sido um sucesso de bilheteria há 18 anos, mas hoje se revela como uma opção divertida para quem deseja revisitar os primórdios da carreira de Wan e também contemplar as escolhas narrativas e visuais que marcariam seus trabalhos posteriores, em parceria com Leigh Whannell, roteirista do filme.

Alguns elementos já se faziam presentes mesmo na época de Saw: o icônico fantoche Jigsaw ecoa nesta obra através de Billy – o boneco ventríloquo central –, que exibe traços semelhantes, como o rosto pálido, a mandíbula articulada e o inusitado apreço por gravatas-borboleta. Contudo, ao contrário de Jigsaw, Billy possui intensos olhos azuis que, de forma sinistra, observam antes mesmo que os personagens o percebam.

Wan sempre demonstrou fascínio por objetos amaldiçoados – elemento fundamental para a construção do universo de The Conjuring –, e não é por acaso que Annabelle, uma boneca ainda mais assustadora que Billy, se destaca como a personagem mais carismática dentre os tesouros ocultos de Ed e Lorraine Warren. Inclusive, uma espiada no Instagram do diretor revela seu entusiasmo por esse tipo de elemento, através de seu apelido Creepypuppet.

Dead Silence também antecipa traços estilísticos que viriam a definir a obra de Wan: uma sonoridade que explora o silêncio tanto quanto os gritos, e sustos que antecedem a ameaça de entidades sobrenaturais – seja na figura da idosa furiosa em Insidious ou da freira que emerge dramaticamente das sombras para exibir seu lado demoníaco.

A presença de Donnie Wahlberg, veterano de Saw, como um detetive um tanto desajeitado também é uma curiosa nota nesta narrativa. Diferente do policial corrupto de Saw, o personagem se mostra mais cético, chegando a alertar com frases como “Você não vai querer me ver te perseguindo!” enquanto persegue o protagonista por um teatro abandonado, repleto de bonecas assombradas. Sua estranha obsessão por um barbeador a bateria se destaca como um traço peculiar, ainda que sem maiores desdobramentos na trama.

A história de Dead Silence insinua ainda o surgimento de elementos sobrenaturais que se estenderão ao longo das futuras obras de Wan, retratando uma figura malévola capaz de atravessar gerações para perpetuar uma maldição. A narrativa se intensifica quando o protagonista, Jamie (interpretado por Ryan Kwanten, pouco antes de sua participação em True Blood), sofre com a morte trágica de sua esposa na mesma noite em que um boneco ventríloquo é misteriosamente entregue em seu apartamento por um remetente desconhecido. Em busca de respostas, ele retorna à sua cidade natal, onde reencontra seu pai distante (Bob Gunton) e a jovem e intrigante nova esposa deste.

Curiosamente, embora Dead Silence se passe em 2007, o filme se situa em uma realidade onde celulares e buscas no Google ainda não eram comuns, evidenciada pela abundância de telefones fixos. A exposição histórica se dá por meio de um extenso flashback de um agente funerário e de um álbum de recortes encontrado por acaso, acompanhado de uma cantiga de ninar que remete à lenda local de Mary Shaw – uma artista teatral tão obcecada pelas bonecas de seu show que insistia em ser sepultada juntamente com elas, cada uma em seu diminuto caixão.

Ao aprofundar-se nos mistérios do passado, Jamie se depara com outros enigmas, como um caso arquivado há décadas envolvendo uma criança desaparecida e uma perturbadora história sobre línguas arrancadas, detalhes que deveriam remeter à essência do ventriloquismo, mas que acabam soando desconexos.

No final, o conselho enigmático do agente funerário – “Cuidado! Se você sair atrás de respostas, pode acabar encontrando-as” – amarra a maior parte dos fios narrativos, culminando num surpreendente twist final que sugere que Wan e Whannell talvez tivessem ambições exageradas para essa narrativa. O filme oscila entre um tom excessivamente sério e momentos quase cômicos, especialmente pelo número de bonecos envolvidos, e sua filmagem com um inconfundível filtro azul acentua esse clima, marcando-o como uma verdadeira relíquia dos meados dos anos 2000.

Se você não se importar em ajustar o brilho para amenizar essa atmosfera sombria, Dead Silence promete uma experiência divertida – e pode até despertar o interesse por conferir outras produções de James Wan.

Dead Silence está disponível para streaming na Shudder.

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